Desmonte
No interior da mina, dezenas de operários trabalhavam com as suas picas e pás, procurando extrair a maior quantidade possível de carvão – antracite. Ao mesmo tempo, aplicavam escoras, iluminados exclusivamente pelo gasómetro. O seu trabalho era exaustivo e insalubre, com condições míseras: grandes quantidades de água no subsolo, fraca ventilação, quase sempre nus da cintura para cima, descalços, inalando constantemente as poeiras dos desmontes e fazendo as suas refeições sem precauções de higiene e limpeza. Os acidentes e as doenças eram frequentes, destacando-se a silicose.
Dar Fogo
Chegados às frentes da “marca”, o mineiro com a pica, realizava o desmonte de carvão enquanto o enchedor utilizava a pá para carregar o “peru”. Desta forma, o carvão desmontado era transportado para os canais inclinados, sendo encaminhado para as berlinas.
Quando a dureza do carvão era maior, a pica tornava-se inutilizável. Era necessário recorrer aos marteleiros. Estes utilizavam o martelo perfurador, abrindo orifícios (tiros) na rocha para a colocação de explosivos e respetivo rebentamento (dar fogo).
Conforme o avanço da “marca”, o mineiro e enchedor deveriam proceder ao escoramento e à entivação para evitar os desabamentos.
Proteção
Embora o capacete fosse um elemento básico na segurança e proteção dos trabalhadores do subterrâneo, nomeadamente mineiros, marteleiros e enchedores, este só passou a ser obrigatório em 1960. Até esse ano, eram utilizadas boinas que em nada os protegiam dos desmoronamentos, mesmo que pequenos.
A utilização dos martelos perfuradores aumentava o risco de contrair a silicose, uma doença profissional que se desenvolve devido à frequente exposição à sílica. As marcas deixadas nos pulmões originam a perda de elasticidade dos mesmos, não permitindo a passagem do oxigénio para o sangue de forma normal.
A silicose diagnostica-se com uma radiografia ao tórax que mostra o padrão típico de cicatrizes e nódulos, sendo esta uma doença incurável.
O controle da produção do pó no local de trabalho pode ajudar a prevenir a silicose, bem como, a utilização de máscaras que forneçam ar exterior limpo ou que filtrem completamente as partículas. Durante várias décadas, a única proteção utilizada pelos trabalhadores das minas de carvão de São Pedro da Cova foi o lenço tabaqueiro. No entanto, esta solução mostrou-se ineficaz.
Fez-se Luz
Como em qualquer exploração subterrânea no mundo, na exploração mineira em São Pedro da Cova os primeiros meios de iluminação utilizavam gordura vegetal, vindo a ser substituídos pelos gasómetros, que a partir da reação química de água com carbureto (carboneto) produzem gás acetileno que alimenta a chama. Este meio de iluminação tinha como desvantagem o contacto direto da chama com o “grisu” (gás metano), o que poderia constituir uma grande ameaça à segurança dos mineiros.
Enquanto noutros países da Europa já eram utilizadas lanternas de segurança (bateria), nas minas de carvão de São Pedro da Cova, o gasómetro foi o meio de iluminação que prevaleceu até ao seu encerramento, em 1972.
Curiosidade: A silicose atingiu uma elevada percentagem de trabalhadores das minas de carvão de São Pedro da Cova e ainda hoje continua a afetar trabalhadores de diferentes setores da indústria.